Sau San Naam Neui/Love on a Diet [en]
瘦身男女 (shòu shēn nán nǚ)
Realizado por Johnnie To Kei-fung & Wai Ka-fai
Hong Kong, 2001 Cor – 94 min.
Com: Andy Lau Tak-wah, Sammi Cheng Sau-man, Kurokawa Rikiya, Higuchi Asuka, Wong Tin-lam, Lam Suet, Cheung Chi-ping, Hung Wai-leung, Wong Mei-fan, Po Ming-nam
comédia romance
Capa DVD
Mini (Cheng) é uma obesa imigrante de Hong Kong a viver no Japão. Quando assiste a um recital de piano pela jovem estrela Kurokawa abandona a sala lavada em lágrimas. A proprietária de uma residencial tenta casá-la com algum dos clientes, acabando por apresentar-lhe um vendedor de facas, também de Hong Kong, “Fatso” (Lau), que, como a alcunha indica, é também um cidadão XXL (1). Ele ajuda a compatriota a fugir às dívidas e, quando toma conhecimento da história e da depressão que a levou a comer abusivamente até aos 150 quilos, decide auxiliá-la a recuperar a figura em tempo recorde, antes de um reencontro marcado com Kurokawa.

Johnnie To e Wai Ka-fai voltam a juntar Sammi Cheng a Andy Lau, depois da comédia romântica «Needing You» (2000). A receita funciona — os actores são meio caminho andado para o sucesso nas bilheteiras de Hong Kong —, razão para que fosse repetida em «Yesterday Once More» (2004), dirigido apenas por To, sem maquilhagens extravagantes.

Como referimos no âmbito de outros comentários à obra de To (provavelmente o realizador com mais entradas neste site), a produtora que criou por altura da retrocessão de Hong Kong para a China — Milkyway Image — dedicou-se inicialmente à produção de policiais noir, filmes com marca de autor, com orçamento limitado pela crise da indústria. Passados poucos anos, vieram as comédias ligeiras, permitindo a subsistência do estúdio e a realização de obras mais maduras — as que costumam chegar aos festivais de cinema mais reputados.

Cheng, Lau Kurokawa, Cheng
Mini (Sammi Cheng) explica a Fatso (Andy Lau) que engordou 100 quilos depois de se separar do namorado.

«Love on a Diet» inclui-se, obviamente, no rol de filmes que se pretendem ligeiros e com apelo comercial amplo. O argumento é simples e sem surpresas, o sustento é a figura das estrelas e uma sequência de gags assente no respectivo excesso de peso. Ver as super-estrelas Lau e Cheng em "fatos" de borracha que as transformaram radicalmente foi um grande chamariz das audiências.

Não esperando grande sofisticação, resta-nos tentar apreciar o filme enquanto divertimento descomprometido. O humor funciona em alguns momentos e a estrutura, ainda que previsível, permite um visionamento com moderado agrado. A revisão, no entanto, foi algo penosa.

Lau Cheng
Enquanto Fatso se delicia com o jantar, Mini tenta fazer dieta.

A “graça” assenta no excesso de peso dos protagonistas e nas tentativas desesperadas de Mini para emagrecer, aceitando conselhos de várias pessoas — onde se incluem comprimidos indutores de diarreia e a ingestão de um verme que devora o excesso de alimentos no interior. Métodos mais “responsáveis” surgem também como opção, com a conveniência do product placement de um health club japonês.

Tratando-se de um filme de Hong Kong é de prever que as preocupações com o que é politicamente correcto sejam mais brandas do que num filme falado em inglês. Aqui assume-se o gozo às pessoas com excesso de peso (devoram comida como se fosse o fim do mundo, sem atentar a regras de etiqueta à mesa) e aponta-se as figuras magras e esguias como um objectivo essencial a alcançar. Mais do que isso, parece fora de causa que a reunião de Cheng e Kurokawa pudesse materializar-se enquanto ela não deixasse de ser anafada.

Uma discussão sobre dietas eficazes, perante uma mesa bem servida. Dois actores habituais nos filmes de To, Wong Tin-lam e Lam Suet, dão os seus contributos (à esquerda). Entretanto, Mini continua com o pé bem pesado e tendências depressivas.

A versão PC acabaria com alguma referência a ser importante aceitar as pessoas como elas são, ao invés de se valorizar os que são magros e se vestem bem, só por esse facto. Aliás, se há crítica a fazer à “moral” é um associar tão rude de magreza (beleza), aprumo e boas maneiras, por oposição a gordura, desleixo, bocas a cuspir comida e mãos gordurosas. Pessoalmente, passo sem a “moral”, desde que o humor funcione e venha servido em doses fartas. Não é o caso.

2

(1) Fei Lou 肥佬 (ou Feilao, em pinyin) que terá um sentido equivalente ao usado nas legendas em inglês, “indivíduo gordo”.

DVD (China Star, R0). Dolby 5.1 e imagem anamórfica (a capa tem o logo “letterbox”). Extras vídeo: making of (21'43), trailer, textos sobre as personagens e notas sobre os realizadores. Há possibilidade de escolha de menu em chinês ou inglês com o arranque do disco. O making of tem legendas impressas na imagem em chinês e inglês.

publicado online em 26/01/06

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