Noksaek-uija [Green Chair] [en]
녹색의자
Realizado por Park Cheol-su [Park Chul-soo]
Coreia do Sul, 2004 Cor – 98 min.
Com: Seo Jeong, Shim Ji-ho, Oh Yun-hong, Seon Uk-hyeon, Kim Jeon-han, Yun Se-jeong, Yu Myeong-sun, Ju Bu-jin, Yul Ri, Baek Hak-gi drama comédia erótico romance
Capa DVD
Kim Mun-hi (Seo) é detida, acusada de ter relações sexuais com um menor, Hyeon (Shim), sendo condenada a prestar serviços à comunidade num lar para idosos. Hyeon, espera-a à saída do estabelecimento prisional e leva-a para longe dos jornalistas, ávidos por “escândalos”. Faltam alguns dias para que ele atinja a idade do consentimento (20 anos) e Mun-hi resiste ao reatar da relação. Apesar do risco, os dois passam algum tempo num motel.

Park Cheol-su é autor de uma extensa filmografia que se estende até ao final dos anos 70. Entre os seus títulos mais conhecidos conta-se «301-302» (1995) e «Kazoku Cinema» (1998). Com a sua própria produtora, Park dirige também uma escola de cinema e organiza um festival em formato DV para dar oportunidade a jovens cineastas de mostrarem o seu trabalho.

Segundo o realizador afirmou durante o Far East Film Festival de Udine, «Green Chair» partiu do conselho de um amigo que lhe sugeriu fazer um filme que assentasse sobre algo que vende sempre bem — sexo. Talvez se trate de um comentário irónico por parte de alguém cujos filmes têm tido resultados limitados nas bilheteiras e que considera que o mercado sul-coreano resiste fortemente a obras fora do mainstream.

Impressão sua? O estúdio considerou que não existia potencial comercial e colocou o filme na prateleira durante um ano e meio. Só em meados de 2005, depois de passagens por festivais de cinema — Sundance, Berlim e Udine — é que «Green Chair» teria data de estreia marcada para salas de cinema na Coreia, vindo a ser, entretanto, também editado em DVD.

A diferença de idades entre os protagonistas de «Green Chair» é um ponto de partida, servindo para colocar as personagens “à margem”, por terem de lidar com uma relação proibida. O isolamento transitório é uma solução que parece ser incontornável; primeiro no motel, depois na casa de Su-jin (Oh), a amiga artista de Mun-hi. Com ela formam um núcleo familiar sui generis, que nos faz questionar se poderá perdurar.

Shim, Seo Shim, Seo
Ninguém poderia prever que tudo começaria com uma compilação de êxitos de Roy Orbison a precipitar-se no solo.

O elemento idade potencia uma estrutura narrativa que conduz à sequência final, onde se reúnem todas as personagens relevantes do filme. Num espaço confinado, reproduzem-se as vozes da comunidade: pais, amigos, relações antigas, a própria Lei. A relação acaba por ser analisada, questionada ou sancionada, por esses elementos externos, os quais Mun-hi e Hyeon têm de enfrentar e vencer.

Há um humor mordaz ao longo de todo o filme, mas é no final que surgem os melhores momentos, com base na interacção entre as várias personagens. Os presentes têm uma função na narrativa na qual Park se foca, descartando o realismo com o iniciar da cena — não faz sentido que metade daquelas pessoas ali se encontrem. É como se tivessem sido convidadas pelo realizador Park Cheol-su e não pela dona da casa, Su-jin.

Oh Festen
Su-jin (Oh Yun-hong) recolhe os amantes em sua casa e é anfitriã da reunião onde todas as personagens se cruzam.

Apesar da suspensão do realismo, há, neste segmento, uma estética documental, motivada pela necessidade de ouvir os “depoimentos” de algumas pessoas sobre a relação dos protagonistas. Dessa forma, ao invés de escrever diálogos e racionalizar a presença de todas as personagens, Park fá-las simplesmente abrir uma porta, entrar e partilhar as suas opiniões connosco. Aquelas que não conhecemos são-nos apresentadas, com a relação com os protagonistas a surgir no ecrã. Em alguns planos explicações são dadas directamente para a câmara, como se fôssemos também convidados e os presentes partilhassem connosco os seus pontos de vista.

Seo Jeong
Para que o filme funcione e não se sinta que a motivação primária é atrair público com base na (suposta) polémica relação entre uma mulher de 30 e poucos anos e um menor (ainda que praticamente com 20 anos) — e nas extensas cenas de sexo entre os dois —, Park conta com os bons desempenhos do elenco principal, liderado por Seo Jeong e pelo jovem Shim Ji-ho. Com a adição de Oh Yun-hong e de um conjunto de secundários com relevância funcional num texto sólido e maduro, as relações entre as personagens tornam-se plenamente credíveis.

Adicione-se ainda a excelente fotografia, sustentada em iluminação natural, composição e montagem eficazes e uma banda sonora sedutora, a completar uma proposta de bom cinema, que merece ser divulgado e apreciado por audiências mais vastas.

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Udine 2005. O DVD sul-coreano (Miro Vision/Starmax, R3) contém dois discos. O primeiro tem o filme numa transferência 1.85:1 anamórfica e pistas de com Dolby 5.1 e 2.0. O segundo (sem legendas) contém um documentário de 90 minutos com imagens dos bastidores e dois trailers. É de assinalar que a qualidade da imagem do filme está acima da média de outros DVDs coreanos, sem brilho e contraste exagerados.

publicado online em 5/12/05

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