Jjakpae [The City of Violence]
짝패
Realizado por Ryu Seung-wan
Coreia do Sul, 2006 Cor – 92 min.
Com: Jeong Du-hong, Ryu Seung-wan, Lee Beom-su, Jeong Seok-yong, An Kil-gang, Kim Seo-hyeong, Kim Byeong-ok, Cho Deok-hyeon, Kim Si-hu, On Ju-wan
crime acção artes-marciais
Capa DVD
Jeong Tae-su (Jeong Du-hong), detective de polícia em Seul, recebe um telefonema a informá-lo da morte do amigo Wang-jae (An). Dirige-se para Onseong, a cidade onde nasceu, para assistir ao funeral, reencontrando os amigos com os quais passou a adolescência: Seok-hwan (Ryu), o irmão Dong-hwan (Jeong Seok-yong) e Pil-ho (Lee). Tae-su e Dong-hwan duvidam da tese oficial da morte de Wang-jae; às mãos de um grupo de adolescentes, depois de reagir contra os distúrbios que aqueles provocaram no seu bar. Entretanto, a pressão urbanística e o projecto para a construção de um casino na cidade despertam o interesse de gangsters locais e da capital.

Ryu Seung-wan não é apelidado de “action kid” à toa: influenciado por mestres do cinema de acção de Hong Kong, está ligado ao género desde a sua primeira longa-metragem — «Die Bad» (2000). Jeong Du-hong é o mais conceituado director de acção da Coreia e trabalha com Ryu desde «No Blood no Tears» (2002), onde interpretou um papel secundário. Em «Arahan» (2004), o mentor da Seoul Action School (que também surge como produtora), foi promovido a vilão de serviço e em «City of Violence» a protagonista. No seu extenso currículo, contam-se colaborações com Kang U-seok («Public Enemy», «Silmido»), Kang Je-gyu («Swiri», «Taegeukgi») e Kim Ji-un («The Foul King», «A Bittsweet Life»).

Ryu não se tem dedicado a um estilo de acção definido. Em «No Blood No Tears», a acção era crua e dura e o protagonismo era no feminino, ainda que Jeon Do-yeon e Lee Hye-yong estivessem longe de encarnar protótipos de “heroínas de acção”. «Arahan», uma fantasia urbana, será lembrado mais pela utilização de fios e efeitos digitais e «Crying Fist» (2005) é, antes de mais, um “drama de boxe”. «City of Violence» é um filme de acção “puro”, directo ao assunto e sem redundâncias. Como bom filme de género, sem pretensões a “épico”, queda-se em redor da marca dos 90 minutos. Gostemos ou não, não temos tempo de nos aborrecermos.

Jeong Du-hong
Jeong Du-hong protagonista e responsável pela acção.
Ryu Seung-wan
Ryu Seung-wan, realizador e protagonista.
A estrutura narrativa e o ritmo de «Jjakpae» remetem para o cinema de acção policial de Hong Kong, mas a banda sonora — assinada por Bang Jun-seok (inclui nos créditos «Tell me Something» e o anterior de Ryu, «Crying Fist» — ajuda também a pensar no western. Claro que o cinema de gangsters de Hong Kong, celebrizado por John Woo no final dos anos 80, tinha influências tanto do cinema de artes marciais clássico como do western americano ou do noir francês, o que relativiza qualquer parágrafo dedicado a ilustrar referências patentes no filme. Os códigos de honra e a dedicação à vingança de um “irmão de sangue”, levada às últimas consequências, são, afinal, temas universais, característicos tanto de um western como «The Wild Bunch» (1969), de Peckinpah, ou das artes marciais modernas de «Pedicab Driver» (1989), de Sammo Hung — para dar apenas dois exemplos memoráveis.

A acção oscila entre a luta urbana, improvisada com punhos, pernas e os objectos que se encontrarem em redor, e as coreografias mais elaboradas, no segmento final, durante o conflito com inimigos profissionais (gangsters sindicalizados), onde se usam espadas e facas de sashimi. O clímax segue de perto os clássicos do género: os dois amigos, mais porta-estandartes da vingança do que defensores da justiça, entram num edifício, ultrapassando diversas fronteiras de segurança e oponentes, definidos pelas perícias marciais e agrupados pelos uniformes. O momento alto é a entrada no restaurante, através de um corredor estreito, onde Tae-se e Seok-yong têm de enfrentar dezenas de inimigos armados com lâminas afiadas. A quantidade não faz a qualidade, mas uma sequência que surge mais cedo, onde os dois lutam contra uma centena de adolescentes, é também surpreendente, por não se aferir demasiado "irrealista", apesar da ridícula desproporcionalidade.

A estrutura dramática não é descuidada; reduz-se ao mínimo essencial, sem que perca a credibilidade ou nos leve a ficar impacientes durante os 20 minutos que demora a começar a acção. A amizade que une os cinco amigos é definida contrastando as relações presentes com o passado, vinte anos antes. No tempo actual, a família de Seok-hwan surge como forma de estabelecer um contraponto dramático com a acção. Tal ilustra-se no pouco respeito que tem pelo irmão mais velho — algo que desilude a mãe e sugere a censura dos mais próximos. O irmão merece censura (e uns bons tabefes), mas o respeito pelos seniores é muito importante numa sociedade de inspiração confucionista.

City of Violence
Para além da redundância e de uma dimensão narrativa desproporcionada, uma das coisas que não funcionaram bem em «Arahan» foram lampejos de acção de rua, envoltos em milhões de bits de acção fantástica, optimizada por fios e CGI. Os fios não faltam em «City of Violence», mas não servem para converter a acção física, orgânica, em fantasia, mas tão só para auxiliar movimentos que, de outra forma, seriam difíceis de realizar ou consistiriam uma verdadeira tortura — como é o caso da cena em que alguém, a cair de um primeiro andar, é agarrado pelos cabelos, em pleno ar, e puxado de volta para cima.

Duas curiosidades: um, a personagem de Ryu Seung-wan, Seok-hwan, tem o mesmo nome daquela que o actor/realizador interpretou em «Die Bad», da mesma forma que o irmão, Ryu Seung-beom — desta vez ausente —, se chamou Sang-hwan em «Die Bad», «Arahan» e «Crying Fist». As personagens, no entanto, são distintas; dois, o filme começa e termina com a mesma palavra (ou melhor, palavrão).

Edição sul-coreana (CJ/Bear Entertainment, R3) em digipak com dois discos. Mesmo sem legendas nos extras, muito material de bastidores não deixa de ter interesse. Transferência anamórfica, som dts e Dolby 5.1.

publicado online em 16/5/07

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