Ying Hung Boon Sik II/A Better Tomorrow II
英雄本色2 (yīng xióng bĕn sè 2)
Realizado por John Woo [Ng Yu-sam]
Hong Kong, 1987 Cor – 103 min.
Com: Chow Yun-Fat, Ti Lung, Leslie Cheung Kwok-Wing, Dean Shek Tin, Emily Chu Bo-Yee, Kenneth Tsang Kong, Regina Kent (Kan Wai-Ling), Kwan San, Chindy Lau Ping-Tai, Lung Ming-Yan
géneros: heroic bloodshed drama crime tríade
[Nota: O texto poderá não ser recomendável a quem não viu o filme original]

A Better Tomorrow II
Na prisão desde o final do filme original, Ho (Lung) recusa-se a ajudar a polícia a encurralar um amigo, Lung (Shek), mas acaba por ceder quando é informado que o seu irmão, Kit (Cheung), está a trabalhar infiltrado nesse mesmo caso. Enquanto a sua mulher está prestes a dar à luz, Kit, agora inspector de polícia, torna-se amigo da filha de Lung, por forma a poder espiar os seus negócios alegadamente ilegais. Lung é traído e implicado num crime, sendo forçado a fugir para Nova Iorque, mas a distância não o livra da vingança dos criminosos. Está, no entanto, próximo do irmão gémeo (pois…) de Mark Gor, Ken (Chow), o qual tem os seus próprios problemas: gangsters tentam forçá-lo a pagar dinheiro para a "protecção" do seu restaurante. A certa altura torna-se confuso saber se aqueles que perseguem Ken e Lung são enviados pelo Boss em HK ou se são membros do gang Americano, mas isso acaba por se tornar secundário. Eles são todos maus e têm de ser abatidos.

A «A Better Tomorrow II» atribui-se a inspiração para os uniformes preto e branco dos "coloridos" personagens de «Reservoir Dogs» (1991), e um excerto do filme integra «True Romance» (1993), dirigido por Tony Scott e escrito por Quentin Tarantino. O estilo de Woo continuava a aperfeiçoar-se, e esta obra contém sequências magistralmente filmadas e coreografadas. Mas existem fraquezas mais notórias aqui do que em qualquer dos outros títulos do realizador. Como se sabe, em HK não é nada difícil que um realizador seja obrigado a remontar o filme, além das frequentes contribuições espontâneas por parte de distribuidores ou produtores. ABT II denota uma montagem confusa e uma certa indecisão quanto ao rumo a tomar. A primeira metade do filme não flue muito bem, e pode custar um pouco a passar. Algumas sequências são difíceis de compreender, parecendo que faltam partes. À medida que nos aproximamos da conclusão, o filme melhora e a acção prepara-se para explodir.

Os dez minutos finais deste filme são uma longa cena de acção, e constituem o perfeito exemplo da necessidade de fatos iguais neste género cinematográfico. Em «Reservoir Dogs» podem ser usados a título de referência ou por razões estéticas, mas aqui pura e simplesmente existem demasiadas pessoas para abater, e temos que conseguir distinguir os heróis dos vilões. A violência é forte e ininterrupta, mas não necessariamente gráfica. Uma imagem típica durante o climax mostra um grupo de 6-10 vilões, atrapalhando-se uns aos outros, a serem abatidos por dois ou três dos heróis vingadores, enquanto jorros de sangue ondulam no ar. Outro momento clássico é a cena que mostra Chow Yun-fat, deitado, a escorregar por umas escadas abaixo, enquanto descarrega o seu par de pistolas.

«A Better Tomorrow II» tem a sua componente de drama. Tanto com o personagem de Dean Shek, incriminado pelo mau da fita, obrigado a fugir e a deixar a filha desprotegida, como com Leslie Cheung, que se tem de aproximar de outra mulher, enquanto a esposa está na maternidade. Mas estes elementos são, em parte, secundarizados pela montagem pouco equilibrada. À partida talvez não se devesse esperar muita complexidade, da forma como a presença de Chow Yun-fat é justificada neste filme (a parte III, dirigida por Tsui Hark, opta por ser uma prequela). Por outro lado, Woo nunca apreciou fazer sequelas, e o motivo que o levou a fazer este filme foi a má situação económica que o amigo Dean Shek atravessava. Ainda com todos os problemas que trespassam o filme, ABT II permanece um entretenimento agradável, e uma paragem essencial para quem queira acompanhar a evolução do estilo de John Woo, um dos mais influentes realizadores de cinema de acção do mundo.

3,5

Disponível em VHS do Reino Unido (Made in Hong Kong) em widescreen, com legendagem em Inglês e Chinês (com algumas falhas e momentos em que a leitura é impossível). Aprovada pelos censores sem cortes. Disponível em DVDs americanos e de Hong Kong, prevendo-se uma edição HKL (RU, R2) para o futuro próximo.

publicado online em 17/1/99

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